Com a abertura da reta, que leva à Transpantaneira, encurtando para hora e meia, ou menos, o percurso entre Cuiabá e Poconé, pôs-se à mostra interessante capelinha colonial, com o seu campanário destacado do corpo da igreja encimado pôr um simbólico e bem esculpido galo prateado.
Os remanescentes da antiga Irmandade de Nossa Senhora do Carmo, a quem pertencia oficialmente a gleba, com papel registrado em cartório e tudo, escassos membros da antiga confraria, relatam-nos o seguinte:
O local, onde havia abundantes veios de ouro, escavados na canga bruta, donde adquiriu o nome, possuía um curral dessa pedra, verdadeira muralha, onde eram encarcerados os escravos, cujos braços serviam de reais ferramentas, para britar o chão empedrado, à cata do ouro que se encravava nas profundezas. À noite, após uma parca ração, eram ajoujados dois a dois e encerrados naquela fortaleza, ao relento, sem o mínimo conforto para relaxar o corpo cansado da labuta diária.
E os dias se sucediam iguaizinhos, cheios de dura lida e sofrimento.
Eis que certa vez, nesse afã de cavar, encontraram, em cima de uma pedra canga, uma santa. A mesma segundo a lenda, que se vê atualmente sobre o altar da capelinha.
Fizeram-lhe imediatamente um rancho, coberto de palha, e ela logo se tornou a padroeira do local. Um padre, que visitava os sertões, fazendo batizados e casamentos e convertendo almas, achando a santa muito linda, para ser venerada naquele lugar ermo e distante, levoua para Poconé.
A Santa anoiteceu em Poconé, mas amanheceu em Canga, de maneira misteriosa.
E aí, fizeram-lhe de imediato, um outro rancho de capim verde.
Com a oferta dos crentes, que alcançavam favores com sua interseção, foram adquirido material com o qual a igrejinha foi construída.
Um fazendeiro rico, em troca de um milagre obtido, passou-lhe em cartório várias léguas de terra. Logo se fundou uma irmandade com o seu nome e sob o seu patrocínio.
Todo o pessoal da Irmandade morava na área pertencente a Santa, apoiados devidamente na própria escritura.
Atualmente esta área ficou muito reduzida. Só lhe resta a periferia em que se situa a capelinha, que já teve o seu altar mor, todo de madeira entalhada, destruído por um incêndio. Um promesseiro incauto acendeu-lhe uma vela aos pés do altar e dela se esqueceu. O vento entrando pela janela, levantou labaredas que alcançaram a toalha rendada do altar; alimentando com matéria de fácil combustão, como flores de papel e madeira seca, o fogo se alastrou e tudo consumiu. Quando os moradores da redondeza deram acordo do fato, pela fumaceira que saía pelas janelas, só restava intacta a Santa em seu nicho.
Interpretaram os moradores, como ira da Santa pela invasão de sua possessão e vêem nisto um dos seus grandes milagres, por se escapar incólume de tamanho fogaréu.
O interessante nessa igreja é notar a torre completamente destacada do corpo, mas conservando o mesmo estilo, como a completá-la. Ela foi construída, por um homem chamado João Noberto, que alcançou uma graça de grande monta e, por difícil de acontecer, era considerado como um caso sem solução.
Comentário de um morador atual, recriminando a venda das terras da Irmandade.
“Muito fácil negociar com Santo, porque eles não descem do reino dos céus, para discutir preço com o comprador”.