Figueirópolis D`Oeste é um município d Estado de Mato Grosso cuja população é constituída de focos de migração dos Estados de Minas Gerais, Goiás, regiões nordestinas e Paraná. Esses migrantes vieram para cá em busca de uma vida melhor, mas no começo, tudo foi muito difícil, se instalaram no meio das matas, fundaram comunidades e fizeram história.
Quantas vezes, as pessoas se reuniram para contar “causos”, ou relembrar fatos que ficaram longe…Hoje, com a facilidade dos meios de transporte, o asfalto, os meios de comunicação, principalmente a televisão, as pessoas ficam mais recolhidas assistindo novelas e programas. Outras, de carro ou de moto, participam das festas dos municípios vizinhos e, nesse vai-vem, os “causos” ficam adormecidos.
O município foi palco de muitas lutas por posse de terras, de mortes estúpidas e, também de fatos misteriosos que fogem à compreensão humana, como é o caso deste que vou contar.
Figueirópolis tinha uma escolinha e uma capela, muito humilde, no centro de seu povoado .
Os devotos se reuniam e, um padre da cidade vizinha de Jauru, vinha de vez em quando rezar missa.
Toda capela ou igreja possui uma diretoria para resolver os problemas que sempre surgem.
O vilarejo foi tomando ares de cidade e, ao redor da capela e da escolinha, foram aumentando o número de bares, lojas, mercadinhos.
Resolveram então, os componentes da diretoria que era hora de construir uma nova igreja, maior, para acomodar melhor os fieis.
O problema maior, que causou muita polemica, se deu pelo fato de que uns componentes da diretoria queriam que a Igreja fosse construída no mesmo local da capela, no centro da cidade, onde no futuro seria construída uma praça. Os outros componentes, inclusive o padre, discordavam, pois uma igreja não podia ser construída em meio a bares, em meio ao pecado.
Como sempre, prevaleceu a opinião dos que apoiavam o padre.
Iniciou-se a construção, desmanchou-se a capela e as missas passaram a ser rezadas num barracão improvisado, coberto de folhas de babaçu, ao lado da construção da nova igreja.
No centro da cidade, ficou como lembrança da antiga capela, um cruzeiro de madeira, solitário a contemplar o espaço vazio à sua volta.
Foi aí que um dos integrantes da diretoria, um daqueles que era oposição, com a ajuda de alguns homens, retirou o cruzeiro, sem a autorização do padre, e colocou-a ao lado da igreja em construção.
Dia seguinte. Dia de missa. O padre veio e a primeira visão que teve foi a do cruzeiro. Não gostou e reunindo alguns homens fez com que o devolvessem ao antigo lugar.
Como o padre era único na região e atendia a todas as comunidades ao redor, passava-se longo tempo sem que ele aparecesse.
Aproveitando-se da ausência do padre, o mesmo homem, transferiu novamente o cruzeiro para a nova igreja.
Cruzeiro vai, cruzeiro vem, deu-se nesse período uma grande seca, secaram os poços, os pastos morreram. Até o rio Brigadeiro ficou quase seco.
A população começou a se desesperar, pois, em todas as cidades vizinhas, chovia.
Ninguém entendia o porque daquela seca…
Novenas, procissões simpatias, tudo foi feito e, nada de chuva!
Depois de alguns meses da ultima missa celebrada, o padre apareceu. Ao passar pela praça, não viu o cruzeiro e deduziu que o tinham levado de novo, para a igreja nova. Ao chegar à igreja o viu no chão. Nada disse. Celebrou a missa, não tocou no assunto, mas como era muito esperto, percebeu o que estava acontecendo na cidade.
A seca estava estampada no rosto d todos que estavam no barracão.
Terminou a missa, com muita sabedoria, fez com que todos vissem que a retirada do cruzeiro do seu lugar de origem, foi um desagrado a Deus e estavam recebendo o castigo pelo ato praticado.
O silencio foi total… Em seguida, pediu que alguns homens levassem de volta o cruzeiro no lugar onde tinha sido fincado pela primeira vez.
Foi uma cena emocionante.
A multidão acompanhou a devolução rezando o terço durante todo o percurso.
O cruzeiro foi colocado, enfim, no mesmo lugar de onde foi retirado, entre vivas e sussurros.
Espanto geral. Coincidência ou não. Coisas do alem do nosso alcance… Vento, relâmpagos, trovões, enfim, a abençoada chuva.
As pessoas corriam a esconder-se nos bares, aos empurrões.
Uma tempestade jamais vista, se derramava, ante os olhos pasmos das pessoas.
Viram as escolinhas ser descoberta, raios, chuva, muita chuva. Choveu a noite toda.
Nessa local, foi construída uma bela praça, com muitas arvores, belos canteiros e um parquinho para as crianças. Ninguém nunca mais ousou tocar no velho cruzeiro, que contempla serenamente cada um de nós…
Colhida pelos professores: Luiz Carlos Noronha e Maria Izilda Alvarenga; informante: José Eliziario da Silva Neto, 31 anos, nascido em Figueirópolis D`Oeste.