Enquanto algumas pessoas atribuíram à piedade do sacerdote o seu prestígio até entre irracionais, outros, sem poder de compreensão e atônitos, atribuíram-lhe algum pacto com Satã, pelas coisas prodigiosas e inverossímeis que ele praticava. Qual não podia ser deste mundo tal homem!
Para comandar animais e ser obedecido por eles, de quem se tem notícias, só São Francisco de Assis, quando trocou por uma humilde estamenha as pompas e glórias desta vida terrena.
Foi ainda andejando por esse mundo de Cristo, que, um belo dia de soalheira, frei Macerata cedeu aos rogos do seu acompanhante, morto de fadiga, para uma rápida sesta, à sombra de frondosa quineira.
Ao acordar, sua montaria se esvaia em sangue, com os olhos já variados, devido picada de venenosa serpente.
Astuto como ele só, o padre sem perder tempo pôs-se a assobiar forte, ecoando pelo sertão aqueles sons que mais se pareciam com silvos de outros animais. A resposta não se fez esperar. Lentamente, veio coleando enorme réptil, com ares de culpa, a que frei recriminou:
– Tu que fizeste tanto dano com teu veneno letal, repara já esse mal e põe fora de perigo de vida, o cavalo.
Obediente, a cobra esticou a sua língua sobre a ferida do animal e retirou dela todo o filtro maléfico que ali havia inoculado. À medida que fazia, o animal ia recuperando as forças e voltando à vida. Quando o animal se pôs de pé, os viandantes reiniciaram a jornada e rumaram ao seu apostolado.