Já faz tanto tempo! … Mas tempo não conta… Não apagou as doces lembranças que continuam gravadas no coração, no decorrer destes longos anos… Tudo volta à minha lembrança, consigo ver a casa, o chão batido, um pote de barro, com um canecão bem “areadinho” em cima, muitas flores ao redor da casa e, ao fundo… a misteriosa floresta.
Este é o cenário do lugar onde nasci na zona rural de Cassilândia – MS, e por lá vivi muitos anos.
Eu era muito pequena quando perdi minha mãe e, fui criada pelos meus tios e o avô paterno Joaquim.
O vô era um homem sério, quase nunca sorria, mas era doce o seu semblante…apesar da seriedade.
Todas as tarde, vô Joaquim tomava um trago de cachaça, coisa pouca, tentando alegrar a vida… Enchia novamente o copo (pequeno) e saia dando fortes baforadas no cigarro de palha… Descia pelo trilho e entrava na boca da mata … Lá ficava até a noite cair… Na volta, tomava um caldo quente que, tirava de uma panela de ferro, na taipa do fogão de lenha, um dedinho de prosa… e, o merecido descanso, o sono reparador da labuta diária.
Era bom quando um vizinho ou outro chegava para “prosear. E um após o outro, iam desfiando os “causos”, o medo e o fascínio tomavam conta de mim. Deliciada, ouvia tantas histórias: de bichos, onças, sucuris, caboclo d`água, iara. Lobisomem… De todos, o que mais me impressionou, foi o do Curupira… e sabem por que? Porque o vô Joaquim, no mistério, revelava que sempre levava pinga e fumo picado para o Pai-da-Mata… Eram amigos… e conversavam todos os dias. Descrevia o Curupira como um anão, de cabelos grandes e vermelhos e os pés eram voltados para trás.
Dizia o vô Joaquim que o Curupira não morria nunca e sua missão era proteger as florestas. O Curupira não era mau, só assustava os caçadores e os homens que faziam grandes derrubadas, acabando com as matas.
Hoje, relembrando tudo, creio que meu avô via mesmo o Curupira e nós, não o vemos mais, porque não dominamos a maldade dos crimes contra a natureza.
Colhida pelos professores Luiz Carlos Noronha e Maria Izilda Alvarenga, informante: Diva Matias Tosta, moradora no município desde junho de 1981; Figueirópolis D`Oeste – MT.